segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Arquivos

Me seguram com força
enquanto passam ferro quente sobre minha pele
Dor física até sinto,
mas não posso chorar na frente deles
senão cortam meus pulsos
com a navalha fabricada pela TV

Meus pés descansam sobre cacos de vidro
colocados pela minha professora de português
Meu cabelo foi queimado
e agora alguém tenta arrancar um dos meus olhos

Aquela criatura custa perfurar minha barriga
com uma faca de serra
O pior é que ela vai conseguir
Não posso fazer nada
Estou amarrado
e agora com apenas um olho assistindo o meu fim

Levanto a cabeça olhando pra quem me destrói
e percebo que fazem sem saber,
como um trabalhador que vai todos os dias ao trabalho
Me matam como se isso fosse rotina deles
Dão "bom dia" quando chega alguém pra cortar um pedaço da minha perna ou despedaçar qualquer outra parte ainda viva

Não tenho mais dedos
Meus dentes estão sendo cortados, outros arrancados
Vejo uma moça segurando uma vela
Os pingos de cera quente sobre os machucados
e o fogo muito próximo do outro olho que ainda resta
Espero a morte com uma calma irritante
"O problema é que ele é teimoso" alguém falou

Cachorros entram na sala para comer o que sobrou de mim
Sinto seus dentes rasgando minha carne crua
No fim percebo que os cães matam a fome
enquanto os humanos apenas se divertem
Pronto, meu corpo foi pro diabo
Eles só esqueceram de deletar meus arquivos